Publicar os resultados das pesquisas realizadas nos laboratórios, universidades e institutos é condição fundamental para o desenvolvimento da ciência. É através de artigos e livros que as ideias circulam, são testadas, corroboradas ou refutadas, inspiram outros trabalhos e novas áreas de investigação.
Todo pesquisador e pesquisadora, em algum momento, enfrenta o desafio de colocar no papel (ou na tela) os produtos do seu trabalho. Às vezes, as palavras saem com mais facilidade; em certos momentos, no entanto, precisamos acender velas e incensos para Darwin antes de digitar a primeira palavra.
A escrita científica só faz sentido se para ela existirem leitores. No mundo contemporâneo, o processo de encontrar material publicado é bem mais simples do que há 20 anos. Quem tem mais de 35 deve se lembrar do quanto gastávamos (em tempo e dinheiro) fotocopiando artigos e capítulos de livros. Uma vez fui lecionar um curso de pós-graduação em Manaus e levei duas malas: uma com roupas, outra com separatas. E nem sou tão velho assim…
Dito isso, o idioma no qual se publica a ciência é sempre uma questão importante. A depender do tipo de artigo, do seu escopo e público alvo, podemos optar por periódicos que aceitam manuscritos em português, espanhol, francês… No entanto, em termos de acessibilidade para um amplo espectro de interessados, o inglês tem sido a escolha de boa parte da comunidade científica para divulgar seus resultados. Aí começam os problemas, especialmente para não falantes nativos do idioma de Shakespeare.
Para meus alunos e alunas, costumo dizer que o inglês da ciência não é o mesmo da literatura. É o inglês técnico, que precisa ser claro e objetivo. O importante é comunicar com precisão as ideias, de preferência da forma mais parcimoniosa e sucinta possível. Àquela primeira versão, escrita sem travas, quase em fluxo de consciência, devem ser aplicadas técnicas de “lipoaspiração redacional”: cortar o que é desnecessário, evitar generalidades, excluir frases que não adicionam nada, e limar parágrafos longos e intrincados.
Felizmente, hoje temos inúmeras ferramentas que auxiliam pesquisadores e pesquisadoras na escrita dos seus artigos, capítulos e projetos. Listo abaixo algumas delas que acho particularmente interessantes.
http://www.grammarly.com
https://secure.aje.com/en/researcher/grammar-check
https://countwordsfree.com/
Tenho usado as ferramentas acima da seguinte forma:
Não existe uma receita quando o assunto é redigir manuscritos científicos. O fundamental é que cada um e cada uma construa o seu próprio processo. Sei como é frustrante receber pareceres do tipo “a ciência nesse artigo é boa, mas o inglês precisa melhorar”. Não devemos esmorecer frente a esses obstáculos. Ferramentas como as discutidas aqui podem ser o diferencial entre o “rejected” e o “accepted with minor revisions”.
PS: Há uma vasta literatura com dicas de escrita científica. Dois artigos muito úteis, que revisito periodicamente, são voltados para falantes de português e discutem os nossos principais erros ao escrevermos em inglês.
Marlow, M.A. 2014. Writing scientific articles like a native English speaker: top ten tips for Portuguese speakers
Marlow, M.A. 2016. Writing scientific articles like a native English speaker: concise writing for Portuguese speakers
Um comentário:
Professor, muito útil o texto. Obrigado.
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