A biologia moderna é quase unânime em reconhecer que existem descontinuidades reais na natureza, que delimitam entidades naturais designadas como espécies. Assim, o conceito de espécie é um dos fundamentos de todas as disciplinas biológicas. Para Mayr (1988, p. 331), “A diversidade da vida orgânica, consistindo de espécies e grupos de espécies (...), é produto da evolução. Isso torna necessário o estudo da origem e história evolutiva da cada espécie e cada táxon superior. O estudo das espécies é, portanto, uma das preocupações fundamentais da biologia”. Não obstante, não há um consenso quanto à uma definição precisa do que seria uma espécie, o que levou ao desenvolvimento de uma série de conceitos diferentes para definir essa entidade natural. Para Mayr (1988), eles podem ser sintetizados nas seguintes classes:
(1) Conceito tipológico de espécie: uma espécie tipológica é uma entidade que difere de outra espécie por apresentar características diagnósticas constantes. Espécies são agregados aleatórios de indivíduos que têm em comum as propriedades essenciais (o conceito remonta ao eidos platônico, ou à “essência” ou “natureza” de algum objeto ou organismo) da espécie-tipo. A palavra “espécie” simplesmente significa “tipo de” e designa um dado grau de similaridade.
(2) Conceito nominalista de espécie: De acordo com o conceito, apenas objetos individuais existem na natureza. Tais objetos ou organismos são mantidos unidos por um nome – espécies, dessa maneira, são meramente construções mentais arbitrárias. Elas não teriam realidade na natureza, de acordo com os nominalistas. Mayr (1988) comenta que o reconhecimento das mesmas entidades como espécies por culturas diferentes, e sem contato entre si (como algumas espécies reconhecidas no Ocidente e também por nativos da Nova Guiné), refuta o conceito nominalista de espécies, uma vez que seria bastante improvável que duas culturas distintas chegassem à mesma construção arbitrária, i.e., à delimitação das espécies idênticas. O nominalismo foi a base do pensamento biogeográfico do jesuíta Athanasius Kircher, no século XVII, que tentou explicar a diversidade biológica que teria aparecido após o dilúvio universal através da existência de “cópula promíscua” entre as espécies animais que foram escolhidas por Noé para sua arca.
(3) Conceito biológico de espécie: Espécies são grupos de populações naturais que podem cruzar entre si e que são reprodutivamente isoladas de outros grupos. Assim, uma nova espécie deve adquirir isolamento reprodutivo como resultado de um processo de especiação; também deve adquirir um novo, estabilizado e integrado genótipo, que a possibilitará adquirir, na maioria dos casos, também um nicho espécie-específico.
Os mecanismos de isolamento de uma espécie são instrumentos de proteção da integridade dos genótipos – sem eles, o cruzamento entre espécies diferentes levaria ao esfacelamento do equilíbrio dos genótipos, que seriam rapidamente extirpados pela seleção natural. A coesão interna das espécies é continuamente reforçada pelo cruzamento. Organismos que pertencem a uma espécie são parte da espécie, não membros dela (uma vez que a espécie, nesse sentido, não é uma classe). A compatibilidade de genótipos de parceiros co-específicos – documentada pela produção de novos genótipos viáveis na sua prole – indica que a população dessa espécie tem o tipo de “harmonia interna” que se esperaria encontrar em partes de um sistema único.
Espécies estão localizadas espaço-temporalmente. Elas ocorrem em locais e períodos específicos. Dentro da sua localização espaço-temporal, espécies correspondem a conjuntos contínuos de organismos – essa continuidade é dada pela sua conexão histórica (ancestralidade comum). Não há nada no conceito biológico de espécie que corresponde ao conceito platônico de essências fixas e transcendentais. Se as espécies tivessem tais essências, a evolução gradual seria impossível. O fato da evolução mostra que elas não têm essências – espécies são caracterizadas por três classes de variabilidade: variação de organismos dentro de uma população; variação no espaço (geográfica) das populações; e evolução, que é a variação no tempo.
4) Conceito evolutivo de espécie: Modificado de Simpson (1961) e Wiley (1981) - uma espécie evolutiva é uma linhagem (uma seqüência de populações ancestrais-descendentes) que evolui separadamente (ou seja, mantém sua identidade) a partir de outras espécies e que possui suas próprias tendências evolutivas e destino histórico. Conceito utilizado especialmente na paleontologia e também por alguns filogeneticistas. Para Mayr (1988), esse conceito utiliza termos vagos como “mantém sua identidade” (isso incluiria barreiras geográficas?), “tendência evolutiva” (conceito muito controverso, uma vez que essas “tendências” só poderiam ser observadas em reconstruções históricas com base em um registro fóssil completo e, ainda assim, seriam meramente descrições da evolução de uma dada linhagem e de alguns dos seus atributos) e “destino histórico”.
(5) Definições "operacionais" de espécie: Para Mayr (1988), são vários, entre eles (a) princípio da diferença – baseado no reconhecimento de morfotipos; (b) reconhecimento de todas populações isoladas geograficamente como espécies diferentes; e (c) reconhecimento de espécies por princípios cladísticos, que se baseia em Hennig (1950), a partir do qual uma espécie ancestral deixaria de existir no momento em que uma espécie nova se origina dela.
Mesmo que o biólogo não se preocupe diretamente com qual conceito de espécie ele utiliza no seu trabalho, a existência de uma entidade natural (portanto, real), demonstrada pelas descontinuidades presentes na natureza, é incontestável.
(2) Conceito nominalista de espécie: De acordo com o conceito, apenas objetos individuais existem na natureza. Tais objetos ou organismos são mantidos unidos por um nome – espécies, dessa maneira, são meramente construções mentais arbitrárias. Elas não teriam realidade na natureza, de acordo com os nominalistas. Mayr (1988) comenta que o reconhecimento das mesmas entidades como espécies por culturas diferentes, e sem contato entre si (como algumas espécies reconhecidas no Ocidente e também por nativos da Nova Guiné), refuta o conceito nominalista de espécies, uma vez que seria bastante improvável que duas culturas distintas chegassem à mesma construção arbitrária, i.e., à delimitação das espécies idênticas. O nominalismo foi a base do pensamento biogeográfico do jesuíta Athanasius Kircher, no século XVII, que tentou explicar a diversidade biológica que teria aparecido após o dilúvio universal através da existência de “cópula promíscua” entre as espécies animais que foram escolhidas por Noé para sua arca.
(3) Conceito biológico de espécie: Espécies são grupos de populações naturais que podem cruzar entre si e que são reprodutivamente isoladas de outros grupos. Assim, uma nova espécie deve adquirir isolamento reprodutivo como resultado de um processo de especiação; também deve adquirir um novo, estabilizado e integrado genótipo, que a possibilitará adquirir, na maioria dos casos, também um nicho espécie-específico.
Os mecanismos de isolamento de uma espécie são instrumentos de proteção da integridade dos genótipos – sem eles, o cruzamento entre espécies diferentes levaria ao esfacelamento do equilíbrio dos genótipos, que seriam rapidamente extirpados pela seleção natural. A coesão interna das espécies é continuamente reforçada pelo cruzamento. Organismos que pertencem a uma espécie são parte da espécie, não membros dela (uma vez que a espécie, nesse sentido, não é uma classe). A compatibilidade de genótipos de parceiros co-específicos – documentada pela produção de novos genótipos viáveis na sua prole – indica que a população dessa espécie tem o tipo de “harmonia interna” que se esperaria encontrar em partes de um sistema único.
Espécies estão localizadas espaço-temporalmente. Elas ocorrem em locais e períodos específicos. Dentro da sua localização espaço-temporal, espécies correspondem a conjuntos contínuos de organismos – essa continuidade é dada pela sua conexão histórica (ancestralidade comum). Não há nada no conceito biológico de espécie que corresponde ao conceito platônico de essências fixas e transcendentais. Se as espécies tivessem tais essências, a evolução gradual seria impossível. O fato da evolução mostra que elas não têm essências – espécies são caracterizadas por três classes de variabilidade: variação de organismos dentro de uma população; variação no espaço (geográfica) das populações; e evolução, que é a variação no tempo.
4) Conceito evolutivo de espécie: Modificado de Simpson (1961) e Wiley (1981) - uma espécie evolutiva é uma linhagem (uma seqüência de populações ancestrais-descendentes) que evolui separadamente (ou seja, mantém sua identidade) a partir de outras espécies e que possui suas próprias tendências evolutivas e destino histórico. Conceito utilizado especialmente na paleontologia e também por alguns filogeneticistas. Para Mayr (1988), esse conceito utiliza termos vagos como “mantém sua identidade” (isso incluiria barreiras geográficas?), “tendência evolutiva” (conceito muito controverso, uma vez que essas “tendências” só poderiam ser observadas em reconstruções históricas com base em um registro fóssil completo e, ainda assim, seriam meramente descrições da evolução de uma dada linhagem e de alguns dos seus atributos) e “destino histórico”.
(5) Definições "operacionais" de espécie: Para Mayr (1988), são vários, entre eles (a) princípio da diferença – baseado no reconhecimento de morfotipos; (b) reconhecimento de todas populações isoladas geograficamente como espécies diferentes; e (c) reconhecimento de espécies por princípios cladísticos, que se baseia em Hennig (1950), a partir do qual uma espécie ancestral deixaria de existir no momento em que uma espécie nova se origina dela.
Mesmo que o biólogo não se preocupe diretamente com qual conceito de espécie ele utiliza no seu trabalho, a existência de uma entidade natural (portanto, real), demonstrada pelas descontinuidades presentes na natureza, é incontestável.
3 comentários:
Olá Charles Morphy!
Você podia aproveitar a discussão sobre conceitos de espécies e ressaltar as diferentes aplicações de cada um nas várias áreas da biologia, como por exemplo o conceito tipológico e a sistemática e a taxonomia.
Parabéns pelo blog. É a sua cara.
Até mais!
muito legal o blog, gostaria só de resaltar uma coisinha em colocar resumos de conceito de especies. bjos adorei.
Gostei muito,me ajudou bastante vlw
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