sexta-feira, 23 de maio de 2008

A estrutura da teoria evolutiva


Em seu magnum opus, The structure of evolutionary theory (de 2002), Stephen Jay Gould elencou o que para ele seriam os pilares da teoria evolutiva darwiana, dispostos em três categorias: agência, eficácia e escopo:
- AGÊNCIA: para Darwin, os organismos agem como o locus da seleção natural, e toda a ordem "superior" emerge das disputas entre os organismos por vantagens pessoais, expressas no sucesso reprodutivo diferencial;
- EFICÁCIA: Darwin identificou a vera causa (causa verdadeira) da evolução no princípio da seleção natural. A seleção natural (que atuaria negativamente, eliminando os menos "aptos") poderia, sob certas premissas a respeito da natureza da variação, levar ao acúmulo de efeitos positivos de variações favoráveis no correr de inúmeras gerações.
- ESCOPO: segundo Darwin, seu mecanismo microevolutivo (que explicava o surgimento e manutenção de pequenas variações), ao ser extrapolado para a imensidão do tempo geológico, seria perfeitamente capaz de gerar toda o quadro da história da vida, tanto em termos de complexidade anatômica quanto de diversidade taxonômica. Outras causas não seria necessárias uma vez que a microevolução também explicaria o surgimento dos padrões macroevolutivos.
Para Gould (2002), esses pilares conceituais são ainda válidos, mas têm sido revistos continuamente nos últimos 150 anos sem, no entanto, terem sido invalidados. Dentro dessa perspectiva, a estrutura da teoria da evolução, hoje, mantém a base do pensamento evolutivo de Darwin, incorporando inúmeros desenvolvimentos: a teoria da seleção ao nível dos organismos foi expandida para um modelo hierárquico de seleção, que atua simultaneamente em vários níveis (genes, linhagens celulares, organismos, demes, espécies e clados); outros processos foram acrescentados para explicar a macroevolução (como o equilíbrio pontuado ou o papel das extinções em massa) e foi ressaltada a grande importância dos limites estruturais, históricos e de desenvolvimento para o afunilamento dos caminhos da evolução (e.g., o papel de eventos estocásticos - ao acaso - para o surgimento da diversidade).



Um comentário:

Anônimo disse...

Grande pensador Jay Gould. Guardo do lado esquerdo do peito seu grande ensaio " A mediana não é a mensagem". Homens como esse tornam-se pássaros.