Esse ensaio saiu na Gazeta de Ribeirão do dia 12 de setembro de 2004.
Tahl e as verdades incontestáveis
Tahl e as verdades incontestáveis
Charles Morphy D. Santos
Mikhail Tahl foi um dos maiores enxadristas que o mundo conheceu, comparado em genialidade e excentricidade aos unânimes Bobby Fischer e Paul Morphy. Dono de uma língua ferina, certa vez, quando perguntado sobre seu estilo agressivo de jogo, Tahl respondeu: "Há três tipos de sacrifícios: os corretos, os incorretos, e os meus" . Como a maioria dos grandes campeões do esporte, Tahl confiava acima de tudo na sua própria capacidade de controlar uma situação surgida nas sessenta e quatro casas do tabuleiro, a fim de chegar a um desfecho favorável. Esse comportamento é corriqueiro também no mundo científico. Entretanto, a ciência nem sempre ganha com a excessiva confiança dos seus praticantes. A complexidade da vida é bem maior que o número de variantes possíveis em uma partida de xadrez e não pode ser mensurada em uma bancada de laboratório.
Parte dos cientistas acredita cegamente nos resultados de suas pesquisas e no seu controle sobre elas. Alguns o fazem por ingenuidade, outros por incompetência. Esses deslumbramentos são divulgados pela mídia com desmedido entusiasmo. Projeto Genoma, utilização de células-tronco, alimentos transgênicos: é longa a lista de áreas promissoras da biologia alardeadas como furos jornalísticos. As possíveis e prováveis conseqüências desses estudos, seus pormenores e idiossincrasias, geralmente ficam fora das primeiras páginas e dos pronunciamentos em horário nobre. Assim, concepções errôneas são propagadas, fornecendo combustível para questionamentos vazios e sem fim em torno de nada tangível.
É certo que o conhecimento científico deve ser levado ao grande público. Entretanto, como qualquer atividade humana, também a ciência tem sua própria sociologia, seus conflitos de interesse e contradições insolúveis. Os bastidores do mundo científico escondem guerras de ego, brigas, vaidade, e, sobretudo, cobiça. A realidade da academia não destoa do mundo fora dela. Afinal, somos todos humanos.
Grandes mentes e grandes projetos muitas vezes rendem-se a grandes verbas oferecidas por grandes multinacionais. Organizam-se verdadeiras operações de guerra para cooptar os corações e mentes de quem quer que interfira com posições contrárias. Para os que insistem no embate resta o ostracismo ou o monólogo.
O projeto Genoma humano, por muitos considerado a maior realização científica do século XX, não passa do reconhecimento das bases nucleotídicas que compõem o material genético da nossa espécie. É como conhecer as letras impressas nas páginas de um livro imenso sem saber o que significam juntas. Há muito trabalho a ser feito a partir daí.
Os alimentos transgênicos, que são modificados através da inserção, no seu material genético, de partes de DNA de outra espécie, interessam muito mais às corporações internacionais do que à vasta população carente de comida. Lucro, controle da cadeia produtiva, mais lucro, vendas, dominação dos mercados. Ouvem-se poucas vozes importantes (abafadas) a falar sobre os riscos e dúvidas sobre a implementação desses organismos no ambiente. Ao grande público sobram os ditos imperiosos das sumidades, que se presumem titereiros debruçados sobre as cordas e o destino de suas criações. Esses exemplos não esgotam o assunto.
A ciência não quer a certeza, mas busca aproximar-se dela. Não há como controlar todas as variáveis das equações da natureza, como Tahl fazia com seus peões, cavalos e torres, e essa impossibilidade precisa ser considerada pelo público não especializado como parte do jogo científico. Assim, a população pode cobrar a verdade por trás das promessas de tantos admiráveis mundos novos que aparecem a cada dia.
É certo que o conhecimento científico deve ser levado ao grande público. Entretanto, como qualquer atividade humana, também a ciência tem sua própria sociologia, seus conflitos de interesse e contradições insolúveis. Os bastidores do mundo científico escondem guerras de ego, brigas, vaidade, e, sobretudo, cobiça. A realidade da academia não destoa do mundo fora dela. Afinal, somos todos humanos.
Grandes mentes e grandes projetos muitas vezes rendem-se a grandes verbas oferecidas por grandes multinacionais. Organizam-se verdadeiras operações de guerra para cooptar os corações e mentes de quem quer que interfira com posições contrárias. Para os que insistem no embate resta o ostracismo ou o monólogo.
O projeto Genoma humano, por muitos considerado a maior realização científica do século XX, não passa do reconhecimento das bases nucleotídicas que compõem o material genético da nossa espécie. É como conhecer as letras impressas nas páginas de um livro imenso sem saber o que significam juntas. Há muito trabalho a ser feito a partir daí.
Os alimentos transgênicos, que são modificados através da inserção, no seu material genético, de partes de DNA de outra espécie, interessam muito mais às corporações internacionais do que à vasta população carente de comida. Lucro, controle da cadeia produtiva, mais lucro, vendas, dominação dos mercados. Ouvem-se poucas vozes importantes (abafadas) a falar sobre os riscos e dúvidas sobre a implementação desses organismos no ambiente. Ao grande público sobram os ditos imperiosos das sumidades, que se presumem titereiros debruçados sobre as cordas e o destino de suas criações. Esses exemplos não esgotam o assunto.
A ciência não quer a certeza, mas busca aproximar-se dela. Não há como controlar todas as variáveis das equações da natureza, como Tahl fazia com seus peões, cavalos e torres, e essa impossibilidade precisa ser considerada pelo público não especializado como parte do jogo científico. Assim, a população pode cobrar a verdade por trás das promessas de tantos admiráveis mundos novos que aparecem a cada dia.
2 comentários:
Oi professor! Como assim ninguém comenta seu blog!?
Comento eu: adorei! Nas férias terei o prazer de ler tudo com mais calma, pois a correria das provas tradicionais da UNESP/Fcav não permitem muita leitura fora da disciplina. Triste fim da educação superior.
Sabe q eu nunca tinha pensado por esse lado. Gostei desse novo ponto de vista!! O site está muito bem feito e a escrita extremamente fácil e interessante.
Bjos
Quel Boró
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