quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Breves resenhas: Carl Sagan, a life


Keay Davidson (1999) Carl Sagan: a life.

Biografia do cientista e grande divulgador da ciência Carl Sagan. Revela algumas facetas muito pouco conhecidas de Sagan - os problemas nos seus dois primeiros casamentos (com Lynn Margulis e Linda Salzman), as dificuldades em ser aceito na comunidade cientiífica dita "séria" (que via nele apenas a sua persona midiática e milionária), a influência opressora da mãe Rachel, os deslumbramentos oriundos da fama e celebridade - e traz análises pormenorizadas das suas principais realizações científicas e da sua visão sobre a necessidade da popularização do conhecimento científico. Obrigatório para admiradores e detratores.
560 páginas.
Editora Wiley.

O livro pode ser adquirido (em inglês) aqui (novo) ou aqui (usado).

Alguns trechos (em tradução livre):

A busca moderna por inteligência extraterrestre (SETI) [do inglês Search for Extraterrestrial Inteligence] está baseada na premissa de que a inteligência é um atributo biológico convergente - isto é, um atributo gerado vezes seguidas em muitos mundos. Se não for, então não há ninguém inteligente lá fora para se "conversar"! De fato, cientistas anti-SETI acusam defensores do SETI (como Sagan) de (...) aceitar a aleatoriedade e a repetibilidade infrequente de todos os tipos de atributos biológicos, menos um: inteligência. Como se a "grande cadeia do ser" medieval ainda fosse válida, entusiastas do SETI tratam a inteligência como o objetivo final de toda evolução, como o ápice em direção ao qual a vida converge em todos os mundos.
No entanto, na Terra, apenas uma das bilhões de espécies estimadas, Homo sapiens, desenvolveu algo como a inteligência humana. (Chimpanzés brincando com fichas coloridas e contando até nove não valem). E por que (os críticos perguntam) deveria o universo ser diferente? O cosmos pode estar fervilhando com vida e ainda assim ninguém pode se importar ou ser capaz de se "comunicar" conosco, não mais do que nós podemos, ou desejamos, nos "comunicar" com tênias, oricteropos [uma espécie de mamífero africano] ou besouros rola-bosta. (p. 30)
Com Marx, os bolcheviques concordaram que a religião era o "ópio das massas"; ela impedia as pessoas de reconhecer seus verdadeiros opressores, os capitalistas. Assim, cientistas marxistas tinham a responsabilidade de procurar explicações não-supersticiosas para os fenômenos biológicos. Historiadores contestam exatamente quão decisivo foi o Marxismo na disseminação da moderna ciência da origem da vida. No entanto, é surpreendente que, durante a primeira, esperançosa, década do socialismo bolchevique, três propostas históricas sobre a origem da vida tenham vindo de marxistas - Oparin na Rússia, J.B.S. Haldane na Inglaterra e H.J. Muller nos Estados Unidos. (p. 59)
A ciência é como um diagrama de gestalt: onde um cientista vê coelhos, outro vê moças com chapéu. (p. 105) 
Sagan respondeu: "Congressista Roush, eu já tenho dificuldade suficiente tentando determinar se existe vida inteligente na Terra para ter certeza se existe vida em qualquer outro lugar". (p. 229)
No começo dos anos 1970, cientistas universalmente reconheceram Vênus pelo que ele é: um inferno Dantesco. Não há geleiras, nem lagos, nem topos de montanha habitáveis onde estranhas criaturas brincar no ar fresco alpino. O oceano venusiano proposto por Menzel e Whipple é uma fantasia esquecida, um conto cauteloso da infância da era espacial que deveria ser relembrado hoje em dia, quando especulações sobre "mares desaparecidos" em Marte e formas de vida bizarras nas profundidades escuras do oceano de Europa [lua de Júpiter] correm soltas. (p. 245)
Futuros historiadores provavelmente vão considerar a exobiologia como uma das mais importantes ciências do século XX; ainda que estritamente em termos Popperianos ela não seja falseável e, portanto, não científica. Algumas críticos chegam a afirmar que ela é indistinguivel da religião. Cristãos esperam pela Segunda Vinda; cientistas do SETI esperam pela primeira mensagem das estrelas. Eles são irmãos de sangue. (p. 260)
Meios mais sutis são necessários para combater a pseudo-ciência. Não se deve falar para as pessoas como se elas fossem crianças balbuciando sobre o Papai Noel; ao invés disso, elas devem ser educadas, pacientemente e respeitosamente. (p. 274)
A energia de Sagan era especialmente marcante, dado seu total desdém por exercícios físicos regulares. (Esse desdém é apontado por seu amigo próximo, Lester Grinspoon, que lembra de quando Sagan comprou uma esteira e tentou usá-la uma vez mas, perdido em pensamentos, caiu dela. Ele nunca a utilizou novamente). A energia de Sagan vinha do puro entusiasmo intelectual. (p. 367)

Um comentário:

Anônimo disse...

Obrigada pela indicação, fiquei com muita vontade de ler! Um abraço!