Esse ensaio, de 11 de julho de 2004, é o segundo da série que saiu na Gazeta de Ribeirão. Como leitura adicional, recomendo o livro "Vida maravilhosa" (1989), de S.J. Gould (especialmente o primeiro e o último capítulos) - bem como qualquer outro desse autor, especialmente os que reúnem seus ensaios sobre história natural. Anteriormente nesse blog, postei uma lista de referências que também podem ser úteis.
A árvore da vida
A árvore da vida
Charles Morphy D. dos Santos
A mais tradicional representação da teoria da evolução é uma fila indiana de hominídeos, liderada pela nossa espécie, o Homo sapiens, tendo como maior retardatário um animal bípede semelhante a um chimpanzé, o Australopithecus. Apesar de onipresente, essa figura carrega incorreções e ranços que só empobrecem a concepção popular sobre as ciências da vida no geral, e sobre a evolução em particular.
Uma seqüência como a referida representa uma série linear em que o primeiro indivíduo é visto como o mais primitivo, a partir do qual surge um outro, mais "evoluído", em um contínuo de substituições que culmina no homem como ápice do processo evolutivo. A explicação da natureza como uma eterna luta pela sobrevivência, através de uma mal definida lei do mais forte, encaixa-se perfeitamente nesse cenário: os Australopithecus, menos adaptados ao ambiente em que viviam, foram massacrados pela espécie sucessora até a completa extinção. A supremacia do vencedor duraria até o surgimento de outro hominídeo mais forte, melhor adaptado, e esse processo continuaria até nascer o Homo sapiens, que dominaria seus predecessores diretos e reinaria soberano sobre o mundo natural.
Se generalizarmos esse raciocínio, extrapolando a representação da linha evolutiva para uma gigantesca fila contendo todas as espécies, iniciada por um microorganismo e tendo, mais uma vez, o homem como linha de frente, chegaremos à conclusão lógica de que a única forma de vida que deveria existir no planeta é o Homo sapiens. Todas as demais estariam extintas. Isso está correto? Não.
Evolução significa modificação, alteração no tempo. Espécies novas surgem a partir de populações ancestrais, as quais não necessariamente deixam de existir. O aparecimento de uma barreira geográfica, como um rio, pode dividir uma população de uma espécie em dois grupos menores, os quais, desconectados, evoluirão em separado, o que pode resultar no surgimento de novas espécies. Estas serão aparentadas àquela que ficou do outro lado do rio. A espécie ancestral não é substituída pela espécie que surge, o que, entretanto, não a livra da extinção (os dinossauros são um exemplo de grupo que desapareceu apenas parcialmente. As primeiras aves, ancestrais dos pássaros que voam hoje, originaram-se a partir de alguns desses "lagartos terríveis". De certa forma, ao comermos uma suculenta coxa de frango, estamos devorando um descendente de dinossauro).
Hoje, o homem convive no mesmo ambiente com bactérias cujos ancestrais remontam aos primórdios da vida, há quatro bilhões de anos. Nenhum dos dois grupos é mais ou menos evoluído que o outro, simplesmente porque evolução não se iguala a progresso.
A representação linear da evolução das espécies, uma dando lugar à outra, deve ser substituída por uma visão mais abrangente, que considere as relações de parentesco entre os seres vivos. Uma grande árvore da vida, com cada galho representando as espécies, vivas e extintas, incluindo a nossa. Uma árvore na qual o homem representa apenas um ramo entre muitos, sem privilégios adicionais.
A mais tradicional representação da teoria da evolução é uma fila indiana de hominídeos, liderada pela nossa espécie, o Homo sapiens, tendo como maior retardatário um animal bípede semelhante a um chimpanzé, o Australopithecus. Apesar de onipresente, essa figura carrega incorreções e ranços que só empobrecem a concepção popular sobre as ciências da vida no geral, e sobre a evolução em particular.
Uma seqüência como a referida representa uma série linear em que o primeiro indivíduo é visto como o mais primitivo, a partir do qual surge um outro, mais "evoluído", em um contínuo de substituições que culmina no homem como ápice do processo evolutivo. A explicação da natureza como uma eterna luta pela sobrevivência, através de uma mal definida lei do mais forte, encaixa-se perfeitamente nesse cenário: os Australopithecus, menos adaptados ao ambiente em que viviam, foram massacrados pela espécie sucessora até a completa extinção. A supremacia do vencedor duraria até o surgimento de outro hominídeo mais forte, melhor adaptado, e esse processo continuaria até nascer o Homo sapiens, que dominaria seus predecessores diretos e reinaria soberano sobre o mundo natural.
Se generalizarmos esse raciocínio, extrapolando a representação da linha evolutiva para uma gigantesca fila contendo todas as espécies, iniciada por um microorganismo e tendo, mais uma vez, o homem como linha de frente, chegaremos à conclusão lógica de que a única forma de vida que deveria existir no planeta é o Homo sapiens. Todas as demais estariam extintas. Isso está correto? Não.
Evolução significa modificação, alteração no tempo. Espécies novas surgem a partir de populações ancestrais, as quais não necessariamente deixam de existir. O aparecimento de uma barreira geográfica, como um rio, pode dividir uma população de uma espécie em dois grupos menores, os quais, desconectados, evoluirão em separado, o que pode resultar no surgimento de novas espécies. Estas serão aparentadas àquela que ficou do outro lado do rio. A espécie ancestral não é substituída pela espécie que surge, o que, entretanto, não a livra da extinção (os dinossauros são um exemplo de grupo que desapareceu apenas parcialmente. As primeiras aves, ancestrais dos pássaros que voam hoje, originaram-se a partir de alguns desses "lagartos terríveis". De certa forma, ao comermos uma suculenta coxa de frango, estamos devorando um descendente de dinossauro).
Hoje, o homem convive no mesmo ambiente com bactérias cujos ancestrais remontam aos primórdios da vida, há quatro bilhões de anos. Nenhum dos dois grupos é mais ou menos evoluído que o outro, simplesmente porque evolução não se iguala a progresso.
A representação linear da evolução das espécies, uma dando lugar à outra, deve ser substituída por uma visão mais abrangente, que considere as relações de parentesco entre os seres vivos. Uma grande árvore da vida, com cada galho representando as espécies, vivas e extintas, incluindo a nossa. Uma árvore na qual o homem representa apenas um ramo entre muitos, sem privilégios adicionais.
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