Essa sim é a parte final do artigo, publicado (em uma versão reduzida) na revista Ciência Hoje de Novembro de 2004 (volume 35, número 210, páginas 59-61).
Filosofia e ensino de ciências: uma convergência necessária – parte 4
Na sala de aula, a contextualização histórica das teorias científicas mostrará aos alunos que os praticantes da ciência não são trabalhadores solitários, fechados em seus laboratórios, e sim homens de um tempo, inseridos em um contexto social amplo e que recebem influências, assim como influenciam outros pesquisadores e personagens de seu período. Para estar apto a apresentar esse quadro, antes de qualquer coisa, a boa formação do professor é imprescindível.
A aula não pode se ater à superficialidade dos livros didáticos, devendo ser acrescida das discussões filosóficas e históricas pertinentes. A leitura é fundamental para o professor, incluindo as obras originais e compêndios sobre os tópicos estudados. Atualmente, há ferramentas disponíveis na internet, tais como blogs, revistas de divulgação online, portais com obras completas de autores consagrados das ciências e da filosofia, e sítios com apresentações, exercícios e documentários que podem ser importantes fontes de informação para o docente – e também para os alunos, especialmente quando orientados de forma adequada.
É papel do professor aproximar os alunos do conhecimento científico moderno, mostrando-lhes que novas teorias sempre partem de idéias prévias (em menor ou maior grau), seja sob a forma de aperfeiçoamentos e refinamentos de hipóteses existentes ou através de críticas profundas a teorias possivelmente ultrapassadas e com menor poder explanatório que as novas proposições. A ele cabe tratar a ciência como um processo contínuo, não hermético, de corroboração e refutação de teorias, melhorias e rearranjos de hipóteses, e constante busca por evidências, possibilitando ao aluno aceitar o novo e estimulando, paralelamente, a reflexão e a análise crítica, com criatividade e imaginação.
Por vezes, nota-se a convergência entre a perspectiva histórico-falseacionista e algumas correntes do construtivismo, uma vez que estas defendem a inserção do aluno na prática do ensino, utilizando e valorizando seus saberes. Certos modelos construtivistas, contudo, podem levar à desvalorização da prática do ensino por não incentivarem a construção do conhecimento fundamentado cientificamente, dando demasiado valor ao senso comum. A supervalorização da experiência sensorial como fonte única geradora de conhecimento cria problemas tanto para a compreensão quanto para a formulação de conceitos. A abordagem voltada excessivamente para o senso comum deve ser evitada pelo professor, o que não significa tratar como irrelevantes os saberes trazidos à sala de aula, e sim partir desse corpo de informações – obtido, via de regra, pela televisão, revistas, jornais e internet – para demonstrar como a ciência é geralmente tratada de forma superficial e deficiente, com vistas a uma formação mais sólida de alunos interessados tanto nos produtos finais quanto no processo de construção do conhecimento científico.
Assumir que a investigação científica não termina com os resultados obtidos nos laboratórios, mas parte de hipóteses de trabalho iniciais para se desenvolver, é um dos caminhos para um ensino de ciências menos apático e mais associado à prática científica. O estímulo à reflexão e à crítica fundamentadas, a partir de uma abordagem histórico-falseacionista, pode auxiliar, assim, na propagada formação de cidadãos conscientes, capacitados a avaliar problemas da sua sociedade sob pontos-de-vista diversos, e que não simplesmente aceitam, sem questionamento, o que lhes é imposto.
Filosofia e ensino de ciências: uma convergência necessária – parte 4
Na sala de aula, a contextualização histórica das teorias científicas mostrará aos alunos que os praticantes da ciência não são trabalhadores solitários, fechados em seus laboratórios, e sim homens de um tempo, inseridos em um contexto social amplo e que recebem influências, assim como influenciam outros pesquisadores e personagens de seu período. Para estar apto a apresentar esse quadro, antes de qualquer coisa, a boa formação do professor é imprescindível.
A aula não pode se ater à superficialidade dos livros didáticos, devendo ser acrescida das discussões filosóficas e históricas pertinentes. A leitura é fundamental para o professor, incluindo as obras originais e compêndios sobre os tópicos estudados. Atualmente, há ferramentas disponíveis na internet, tais como blogs, revistas de divulgação online, portais com obras completas de autores consagrados das ciências e da filosofia, e sítios com apresentações, exercícios e documentários que podem ser importantes fontes de informação para o docente – e também para os alunos, especialmente quando orientados de forma adequada.
É papel do professor aproximar os alunos do conhecimento científico moderno, mostrando-lhes que novas teorias sempre partem de idéias prévias (em menor ou maior grau), seja sob a forma de aperfeiçoamentos e refinamentos de hipóteses existentes ou através de críticas profundas a teorias possivelmente ultrapassadas e com menor poder explanatório que as novas proposições. A ele cabe tratar a ciência como um processo contínuo, não hermético, de corroboração e refutação de teorias, melhorias e rearranjos de hipóteses, e constante busca por evidências, possibilitando ao aluno aceitar o novo e estimulando, paralelamente, a reflexão e a análise crítica, com criatividade e imaginação.
Por vezes, nota-se a convergência entre a perspectiva histórico-falseacionista e algumas correntes do construtivismo, uma vez que estas defendem a inserção do aluno na prática do ensino, utilizando e valorizando seus saberes. Certos modelos construtivistas, contudo, podem levar à desvalorização da prática do ensino por não incentivarem a construção do conhecimento fundamentado cientificamente, dando demasiado valor ao senso comum. A supervalorização da experiência sensorial como fonte única geradora de conhecimento cria problemas tanto para a compreensão quanto para a formulação de conceitos. A abordagem voltada excessivamente para o senso comum deve ser evitada pelo professor, o que não significa tratar como irrelevantes os saberes trazidos à sala de aula, e sim partir desse corpo de informações – obtido, via de regra, pela televisão, revistas, jornais e internet – para demonstrar como a ciência é geralmente tratada de forma superficial e deficiente, com vistas a uma formação mais sólida de alunos interessados tanto nos produtos finais quanto no processo de construção do conhecimento científico.
Assumir que a investigação científica não termina com os resultados obtidos nos laboratórios, mas parte de hipóteses de trabalho iniciais para se desenvolver, é um dos caminhos para um ensino de ciências menos apático e mais associado à prática científica. O estímulo à reflexão e à crítica fundamentadas, a partir de uma abordagem histórico-falseacionista, pode auxiliar, assim, na propagada formação de cidadãos conscientes, capacitados a avaliar problemas da sua sociedade sob pontos-de-vista diversos, e que não simplesmente aceitam, sem questionamento, o que lhes é imposto.
3 comentários:
Hum.. que chique, agora tem até musiquinha. Gostei!
Quanto aos textos, estão sempre mais interessantes!
Beijo, Dr. Morphy.
Ah, parabéns pela pintura também. Muito bonita!
Gostei muito da abordagem construtivista. Talvez o "senso comum" seja reflexo da falta de preparo de muitos professores de ciências... Há muitos professores aversivos à Ciência, por mais incrível que isso possa parecer.
Fala Charles,
Li o artigo todo e gostei bastante. O ponto mais interessante e ao mesmo tempo angustiante para mim está na aparente contradição entre como passamos ciência para o público leigo. Tratamos como "verdade absoluta", saindo completamente do sentido original, ou focamos na transição do conhecimento? Pelo pouco que li em textos de educadores esse tratamento depende muito do público alvo. Principalmente da sua idade.
Acho interessante a discussão de introdução da filosofia da ciência no ensino de ciências. Esta frase parece até ilógica, mas é a realidade. Em toda a minha graduação não foi oferecida nenhuma disciplina de filosofia da ciência. Só tive contato com esta na pós-graduação, em disciplinas não obrigatórias e em leitura fora da universidade.
Sendo assim, como você precisamente citou no texto, o buraco é mais embaixo. Se não formamos os professores quanto a filosofia da ciência, como passar conceitos filosóficos aos alunos? Criamos a velha e conhecida situação dos "bons" e maus" professores, que buscam conhecimento por via própria. Não que isto seja ruim, mas se dependermos disso para termos uma educação mais completa para nossos alunos, estamos perdidos.
Saudações biológicas.
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