segunda-feira, 23 de julho de 2012

Argumentos falaciosos que camuflam os OGMs

É sempre um prazer compartilhar realizações com quem respeitamos e admiramos pelo seu caráter e importância. Fernando Zucoloto é professor titular no Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (USP), especialista em comportamento alimentar, um dos criadores do Centro Estudantil da Biologia da USP/RP e organizador da primeira Semana de Bio Estudos (que já está na edição 40!) dessa instituição. Foi dos meus professores mais marcantes. Ouvi dele pela primeira vez a Darwiniana frase “evolução não é sobrevivência do mais forte, é descendência com modificação” e também “foi o homem quem fez a religião, não foi a religião que fez o homem” (essa de Karl Marx).

Na edição de julho da Scientific American Brasil (número 122) foi publicado um artigo de minha autoria em colaboração com o prof. Zucoloto discutindo como algumas considerações superficiais sobre organismos geneticamente modificados podem ocultar muitas das suas ameaças potenciais. O texto na íntegra pode ser lido abaixo.

Argumentos falaciosos que camuflam os OGMs
por Charles Morphy D. Santos & Fernando S. Zucoloto

Em sua obra-prima, o escritor britânico Martin Amis disse: “Eu sei que não deveria ter tentado aquilo. Eu sei que não deveria ter mexido com aquilo tudo. Eu realmente quero mudar e endireitar as coisas, mas acho que agora é tarde demais. Tenho um terrível pressentimento de que não vou conseguir me recuperar disso”. Quando pensamos a respeito de organismos geneticamente modificados (OGMs), conhecidos popularmente como transgênicos, a frase de Amis parece encaixar-se com perfeição ao tema.

Pode-se argumentar que qualquer tipo de avanço científico e tecnológico nos coloca frente às mesmas questões e ao mesmo espírito de “não deveríamos ter mexido com aquilo tudo”. A ciência é vista por alguns como o caminho óbvio para uma sociedade mais justa e igualitária. No entanto, há ainda quem a condene sob a premissa de que o desenvolvimento científico muitas vezes põe em risco a sobrevivência da espécie humana e do ambiente em que ela está inserida. Como na política, discussões sobre as ciências tendem a polarizações, com um lado favorável e outro contrário às novas descobertas. Mas essa é uma interpretação muito simplificada, pois trata o cientista como alguém que oscila constantemente entre boas e más intenções.

A falsa percepção sobre os praticantes da ciência, no entanto, não nos exime da necessidade de termos uma posição coerente e honesta: há consequências particularmente arriscadas ou mesmo perigosas da pesquisa científica. Todos conhecem, por exemplo, os custos ambientais e humanos das armas nucleares ou os cenários aterradores dos regimes nazifascistas e suas “experiências científicas” durante a Segunda Guerra Mundial. Teoricamente, tudo é permitido para a ciência (ninguém deveria ser julgado culpado por levantar a hipótese de criar um buraco negro dentro do seu laboratório). Na prática, porém, a ciência pauta-se pelos limites do questionamento racional, baseado em evidências e teorias falseáveis e repetíveis, capazes de antever possíveis desdobramentos das suas aplicações. (Ninguém deveria criar de fato um buraco negro no seu laboratório!).

Isso nos remete à discussão sempre atual sobre os organismos geneticamente modificados. O que temos visto atualmente parece ser uma campanha ferrenha e sub-reptícia defendendo o seu uso quase indiscriminado baseada em argumentos que extrapolam o raciocínio científico e se assemelham mais às práticas comuns da publicidade e propaganda. É certo que muitos OGMs são imprescindíveis para a vida humana moderna (basta nos lembrarmos da insulina humana, produzida através de bactérias geneticamente modificadas e essencial para garantir qualidade de vida a diabéticos), mas o impacto desses transgênicos, especialmente quando deixam de ser controláveis ao ser inseridos no ambiente natural, deve ser analisado de forma desapaixonada. Os objetivos deste artigo são discutir como boa parte da comunidade acadêmica é tendenciosa quando apresenta os benefícios e os problemas dos OGMs, além de defender a precaução, o cuidado e a seriedade nas pesquisas sobre esses organismos, antes de lançá-los no ambiente.

Há um número grande de trabalhos defendendo transgênicos sem ao menos olhar para o outro lado da cerca. Peter Raven, um dos autores de livros-texto de botânica mais importantes do final do século 20, assim escreveu em um artigo de 2005: “Tem sido geralmente aceito, nas últimas três décadas, que o processo de produção de organismos transgênicos não causa nenhuma ameaça. Além do mais, nenhum argumento confiável tem sido oferecido sobre por que esses organismos, como uma classe, colocariam em risco a saúde humana. Centenas de milhões de pessoas têm consumido alimentos derivados de plantas transgênicas por (cerca de) 10 anos, e nenhum problema de saúde foi registrado, assim como nenhuma razão confiável foi levantada sobre por que esse tipo de problema deve ser esperado”. Diferentemente do que Raven sugere, pesquisas apresentando argumentos confiáveis vêm sendo publicadas desde as primeiras experimentações com organismos transgênicos.

Em 1999, William Muir e Richard Howard, professores do Departamento de Ciências Animais e do Departamento de Ciências Biológicas da Purdue University, nos Estados Unidos, discutiram profundamente alguns dos riscos ecológicos dos OGMs. Nas palavras deles: “[A] introdução de organismos geneticamente modificados em populações naturais pode resultar em riscos ecológicos, como extinção de espécies. Tem sido sugerido que esses riscos correspondem a pequenas ameaças ambientais porque os organismos transgênicos seriam novidades evolutivas com reduzida viabilidade. Entretanto, organismos transgênicos também podem ter vantagem em alguns aspectos reprodutivos capazes de aumentar seu sucesso na Natureza”. Dez anos antes, James Tiedje, do Departamento de Ciências do Solo da Michigan State University e colaboradores já haviam levantado uma série de considerações ecológicas e recomendações para a introdução no ambiente natural de organismos modificados geneticamente em laboratório. 

Argumentos contrários aos OGMs são numerosos. O que falta, de fato, é o contraponto, ou seja, resultados favoráveis aos OGMs apontando o cenário inverso, publicados pelas companhias que vêm introduzindo esses organismos no ambiente há décadas. Nesse sentido, o espanhol Jose Domingo, da Universitat Rovira i Virgili, considera que “Se (…) estudos sobre a segurança e a toxicidade dos alimentos transgênicos têm sido feitos por essas companhias, por que seus resultados não são submetidos ao julgamento da comunidade científica internacional, como seria esperado caso essas pesquisas fossem publicadas em revistas de reputação?”. Como os relatos sobre a segurança dos OGMs nem sempre aparecem em veículos de divulgação que submetem seus artigos à revisão por outros pesquisadores capacitados (o chamado peer-review, que é de praxe na publicação de pesquisas científicas), a comunidade acadêmica e o restante da população têm como única fonte de informação as palavras das companhias de biotecnologia, que muitas vezes pouco se diferenciam de propagandas apelativas e estão a anos-luz do rigor científico. Felizmente, qualquer tipo de decisão na ciência deve ser tomada com base em dados experimentais e observações, não na fé – não é preciso lembrar o grau de desinformação da população sobre os riscos de câncer e outras doenças relacionadas ao uso contínuo de cigarros promovido pelas companhias de tabaco.

Responsabilidade social

Há alguns anos, a Bélgica liberou o plantio e a comercialização de plantas transgênicas com uma ressalva: os laboratórios responsáveis por esses organismos seriam punidos se fossem constatados quaisquer danos ao meio ambiente ou à saúde das pessoas. Isso fez com que os laboratórios belgas desistissem tanto do plantio como da comercialização desses OGMs. Fica a pergunta óbvia: se as plantas transgênicas de fato não prejudicam o meio ambiente ou a saúde dos consumidores, por que alguns laboratórios resistem em assumir os riscos relativos à sua produção e distribuição? Também parece estranha a insistência de vários grupos em apoiar a não rotulagem dos alimentos geneticamente modificados.

Segundo Raven, nenhum problema de saúde foi registrado nos últimos dez anos por conta do consumo de alimentos transgênicos. Ele parece desconsiderar uma informação trivial: uma década, dada a história biológica do planeta, é um período curto de tempo – a vida aqui começou há mais de 3,8 bilhões de anos. Desde o século 19 sabemos que a biodiversidade é resultado do processo evolutivo de descendência com modificação. Os registros fósseis sugerem que a origem dos animais deu-se no mínimo há 760 milhões de anos.

Em comparação à magnitude do tempo geológico é impossível prever as consequências da ingestão de OGMs em apenas 10 anos; não se pode avaliar o impacto de uma nova tecnologia como essa em um intervalo tão curto. Além disso, o não aparecimento imediato de problemas ambientais ou de saúde humana devido ao plantio e ingestão de OGMs não significa que eles não existam. Talvez ainda não tenham sido detectados ou os estudos feitos sobre o assunto não foram aprofundados o sufi ciente. A história é plena de exemplos análogos. A diabetes tipo II começou a aparecer no Egito antigo com a mudança dos hábitos alimentares; entretanto, apenas na contemporaneidade a ligação entre essa doença e o tipo de alimentação foi demonstrada. O problema surgido no meio ambiente devido aos gases utilizados em geladeiras e aparelhos de ar-condicionado foi esclarecido apenas nas últimas décadas do século 20, apesar de essas tecnologias serem utilizadas há mais de 70 anos. O mesmo ocorreu com o amianto, que só recentemente teve seus malefícios ligados à saúde humana e ao meio ambiente comprovados.

Efeitos negativos

Alguns dados são úteis avaliar a consequência da introdução dos OGMs no ambiente natural. Em seu livro Roleta genética, Jeffrey Smith aponta vários casos interessantes, entre eles: 1– depois da introdução da soja transgênica no Reino Unido, os casos de alergia a esse alimento dispararam; 2– foi observada alta na mortalidade de ovelhas que pastaram em lavoura de algodão transgênico; 3– ratos alimentados com milho transgênico apresentaram múltiplos problemas de saúde; 4– o número de mortes em galinhas dobrou quando elas foram alimentadas com o milho transgênico em relação ao grupo alimentado com milho comum; 5– também no Reino Unido, suplemento alimentar transgênico à base de triptofano matou 100 pessoas e provocou doenças em outras 500; e 6– aumentaram as taxas de câncer entre pessoas que ingeriram leite produzido com o hormônio de crescimento bovino projetado com técnicas transgênicas. Portanto, o argumento de que problemas ambientais provocados por OGMs não foram observados até agora, o que indicaria, segundo os defensores dessas novas tecnologias, que esses problemas não existem, é falso. No mais, ausência de evidência não significa evidência de ausência.

Para Raven, “não há dados científicos de que o processo de transferência de genes de um tipo de organismo para outro cause problemas intrínsecos”. Isso não é o que a literatura especializa da ou mesmo a mídia têm mostrado. Porque supostamente “nada aconteceu” durante o teste controlado com populações pequenas e isoladas não significa que todos os OGMs são seguros ou mesmo que um OGM pesquisado será seguro quando comercializado em larga escala.

Para muitos dos defensores de OGMs a engenharia genética é uma extensão da reprodução seletiva natural. Eles afirmam que, desde o surgimento da agricultura há cerca de 11 mil anos, cientistas vêm selecionando genes para a melhoria das espécies animais e vegetais em relação ao seu valor nutritivo e produtividade. O mesmo seria válido para a tecnologia transgênica. Infelizmente, essa é mais uma falsa afirmação: há uma diferença qualitativa enorme entre cruzar variedades diferentes e introduzir genes de uma espécie em outra distante filogeneticamente. Esse tipo de extrapolação talvez seja usual no contexto da propaganda e do marketing, mas é inaceitável em um debate científico. Organismos transgênicos podem ser mais perigosos em especial quando os novos atributos inseridos artificialmente são capazes de aumentar a sua competitividade de forma rápida. Já que a seleção natural não escolhe seus alvos, ela atuará tanto nos organismos não modificados em laboratório quanto naqueles alterados, podendo levar à reprodução diferencial desses OGMs e à ampliação do tamanho das suas populações em pouco tempo. Desde Darwin sabemos que a evolução é imprevisível. Consequentemente, não é possível determinar o impacto ambiental da seleção desses transgênicos. 

Eliminação da fome

Há outro argumento falaciosos, de flagrante teor social, para justificar a disseminação de algumas formas de OGMs: os alimentos transgênicos vão “salvar” o mundo da fome. Seria tecnicamente possível, por exemplo, enriquecer com vitaminas qualquer alimento que as tenha em pequena quantidade. Isso possibilitaria, além da nítida melhora no teor nutricional, também a redução dos preços nas prateleiras dos supermercados, pois os OGMs permitiriam a diminuição na aplicação de agrotóxicos e o aumento da produção. Esse tipo de justificativa é, no mínimo, ingênua, uma vez que as questões relativas ao problema da fome no planeta estão mais relacionadas à distribuição de renda desigual que à produção mundial de alimentos (que hoje é sufi ciente para alimentar, com sobras, toda a população mundial). Além disso, parece-nos improvável que as grandes empresas produtoras dos OGMs alimentícios concordem em diminuir suas margens de lucro.

Para alguns, os alimentos transgênicos seriam capazes de curar doenças endêmicas. Um caso bastante citado é do arroz dourado, utilizado em certas regiões da Ásia onde casos de cegueira estariam crescendo devido à falta de ingestão do betacaroteno, precursor da vitamina A, uma das responsáveis pela saúde da visão humana. Gastou-se no projeto desse arroz transgênico, capaz de sintetizar o ­betacaroteno, uma quantia estimada de US$ 100 milhões. No entanto, nessas regiões da Ásia, havia uma planta chamada batua, riquíssima em ­betacaroteno e cultivada junto com o trigo. Com o advento da monocultura e consequente destruição do ecossistema onde a batua estava inserida, ela desapareceu e, com ela, a maior fonte de betacaroteno dos habitantes da região, daí o aumento vertiginoso da cegueira. Se não fosse o emprego da monocultura na região provavelmente a batua continuaria sendo cultivada e o nível de aparecimento de problemas de visão nas populações humanas estaria controlado. Os US$ 100 milhões gastos no desenvolvimento do arroz dourado poderiam ter sido aplicados em outros projetos.

Uma análise feita pela instituição Amigos da Terra Internacional sobre os alimentos transgênicos, abrangendo o período 1996-2006, mostra resultados desconfortáveis para os defensores dessa tecnologia. No relatório apresentado sob o título “Quem se beneficia com os grãos geneticamente modificados”, afirma-se que os atributos atraentes dos alimentos transgênicos desaparecem na segunda geração. Segundo esse relatório, esses OGMs não oferecem qualquer benefício em termos de qualidade e preço e nada têm feito para aliviar a fome no mundo. (Como citado anteriormente, o problema é eminentemente político. A solução definitiva passa pela agroecologia, por uma justa distribuição de renda e pela reforma agrária.) Apesar de toda a propaganda com viés humanitário, em sua maioria os grãos transgênicos são utilizados como ração para a pecuária nos países ricos. Não podemos deixar de considerar também seu impacto social, que está longe de ser irrelevante. Como grandes conglomerados internacionais controlarão a produção e distribuição desses alimentos, incluindo as suas sementes, a possibilidade de reduzir de maneira drástica a agricultura familiar tem de ser levada em conta.

Pode parecer inacreditável imaginar um mundo futuro sem organismos geneticamente modificados. Seus benefícios seriam extraordinários e produziriam um impacto tão positivo nas sociedades que as deixariam cada vez mais semelhantes aos mundos utópicos da literatura. Segundo Peter Raven, “os danos ambientais causados pelos sistemas de agricultura tradicionais, envolvendo a aplicação de grandes quantidades de produtos químicos às plantações, são (...) bem maiores [do que os danos causados por plantações de OGMs]”. Quem não gostaria de proteger o meio ambiente e promover a biodiversidade? É admissível a esperança nesse admirável mundo novo excitante, mas o entusiasmo demasiado sobre essa nova tecnologia deve ser relativizado, pois os efeitos colaterais da sua aplicação estão longe de ser compreendidos. Existem ainda muitas dúvidas sobre o que os OGMs poderão causar à saúde humana e ao meio ambiente. A imagem espelhada da utopia, uma “utopia negativa” ou distopia, pode emergir rapidamente se as coisas saírem do controle e alcançarem proporções alarmantes como alguns dos estudos discutidos aqui sugerem.

Na apresentação do seu credo sobre o pensamento crítico, o escritor de ficção científica Theodore Sturgeon disse: “Qualquer avanço que essa espécie tenha feito é resultado de, em algum lugar, olhando para este mundo, sua vizinhança, sua caverna, ou para si mesmo, alguém ter feito a pergunta seguinte. Qualquer erro mortal que essa espécie cometeu, qualquer pecado contra ela mesma ou contra o seu destino, é resultado de não fazer a pergunta seguinte, ou de não ouvir aqueles que a fazem”. A partir de argumentos e evidências científicas, precisamos continuar questionando enquanto as correções de rota ainda são possíveis.

Para conhecer mais:
Does the use of transgenic plants diminish or promote biodiversity? Peter Raven, em New Biotechnology, vol. 27, págs. 528–533, 2010.
Roleta genética: riscos documentados dos alimentos transgênicos sobre a saúde. Jeffrey Smith. Editora João de Barro, 2009.
Por que comemos o que comemos? Fernando S. Zucoloto. Editora Mauad, 2008.
Transgenes in Mexican maize: Desirability or inevitability? Peter Raven, em Proceedings of the National Academy of Sciences, vol. 102, págs. 13003–13004, 2005.
Possible ecological risks of transgenic organism release when transgenes affect mating success: sexual selection and the Trojan gene hypothesis. William Muir e Richard Howard, em Proceedings of the National Academy of Science, vol. 24, págs. 13853–13856, 1999.

Referência:
Santos, C.M.D. & Zucoloto, F.S. 2012. Argumentos falaciosos que camuflam os OGMs. Scientific American Brasil, 122, 54-57.

Figura:
Vincent Van Gogh, Campo de Trigo com Ceifeiro e Sol (junho de 1889)

3 comentários:

Esaú disse...

Acredito que a maior falha nos debates sobre OGMs é tratar todos os OGMs como um único. É interessante ressaltar a diferenças de selecionar genes que já existem na população, para a inserção de genes de outros organismos filogenéticamente distantes, entretanto enquanto não for possível conceber o mecânismo pelo qual essa inserção causa problemas não acredito que seja possível afirmar que ela causa problemas.
O ponto a que quero chegar é que leigos recusam alimentos trangênicos de maneira desinformada como se a inserção de material genética per se seja suficiente para causar danos desastrosos aos humanos. Não consigo imaginar nenhum mecânismo desse tipo. Contudo consigo entender que a inserção de um determinado gene, em uma determinada espécie, possa produzir toxinas, por exemplo. Trata-se de algo que deve ser analisado caso a caso, com testes rigorosos para cada novo OGM a ser lançado no mercado. No que tange os riscos a saúde humana, o problema dos trângenicos é o mesmo dos farmácos: a falta de rigor científico que decorre da disputa de interesses comerciais.
Na minha opinião, o maior e mais incontrolável problema generalizável aos OGMs é de cunho ecológico, e novamente a proteção da biodiversidade não é assunto de destaque econômico.

Charles Morphy D. Santos disse...

Caro Esaú,
Entendo que não devemos tratar todos os OGMs como iguais. No entanto, existe algo chamado "princípio da precaução", utilizado nos processos decisórios sobre os transgênicos, segundo o qual, "dadas as incertezas científicas sobre os possíveis impactos ambientais, econômicos e sociais advindos de sua utilização (BRASIL, 2006). Não obstante as características próprias de cada nação, tal princípio se faz presente em praticamente todos os modelos regulatórios de OGMs ao redor do mundo. No processo de análise de risco, o critério de avaliação utilizado se baseia, geralmente, na comparação estrutural da variedade transgênica com sua contraparte convencional (...)" (Pizella & Souza, 2012, p. 28).
Mesmo que não se imagine mecanismos que possam causar "danos desastrosos aos humanos", eles existem e vem sendo documentados (meu artigo com o Zucoloto comenta alguns deles). A questão é mais complexa do que a mera "produção de toxinas". Toda evolução é co-evolução, uma vez que os grupos taxonômicos passam por uma série de processos durante sua história baseados em diferentes processos e múltiplas variáveis. Um OGM, obviamente, não seguiu essa mesma trajetória. Sua existência não é fruto de um processo de seleção, por exemplo. Lembre-se da introdução de coelhos na Austrália. Devido ao descuido humano, eles escaparam do controle e encontraram lá um ambiente propício para a sua reprodução: clima e vegetação ideais e a inexistência de predadores naturais. O que aconteceu? Desequilíbrio ambiental generalizado...
Os leigos não recusam alimentos transgênicos pelo simples fato de que eles não são avisados deles! Você já viu nas prateleiras produtos com o rótulo T, avisando que lá existem OGMs? Só vejo isso em ração animal.
Dê uma olhada no artigo que citei acima, dessa minha amiga Denise Pizella em colaboração com o Marcelo de Souza. Eles esclarecem uns pontos importantes sobre essa discussão (http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/made/article/viewFile/25495/18571)
Abraço!

Esaú disse...

Obrigado pela réplica, Charles. Vou ler sim o indicado. No mais, parabéns pelo texto.