sábado, 2 de agosto de 2008

Parábola cética

Entre 1988 e 1989, foi publicada uma edição especial do Surfista Prateado, escrita por Stan "The Man" Lee e ilustrada por Jean Giraud Moebius, intitulada Parábola. Nela, Galactus, uma entidade cósmica conhecida como "o Devorador de Mundos", vem à Terra para destruí-la e se alimentar da sua energia. Para isso, Galactus permite que as pessoas façam o que bem desejarem em seu nome para, assim, encontrarem a "salvação" - o plano é permitir que a humanidade se aniquile por meios próprios. Nesse ínterim, surge seu ex-arauto, o Surfista Prateado, questionando o direito de Galactus de atacar a Terra com um estratagema tão ardiloso.

Essa é uma das mais belas HQs de super-heróis já criadas. Definitivamente, não é leitura apenas para crianças...




Como bem aponta João Carlos, do blog Chi vó, non pó, em um comentário aqui nesse espaço, o ceticismo não é uma perspectiva exclusiva das ciências. Até mesmo as religiões poderiam se beneficiar dele (através, por exemplo, de uma auto-análise periódica - quiçá constante - que levasse à depuração de suas premissas reiteradas vezes consideradas infundadas). No entanto, essa me parece uma visão de mundo por demais otimista. As religiões, quando tomadas no geral, não parecem fazer um esforço sincero para depurar o que podemos chamar de suas "superstições infundadas".

Religiões deveriam tratar de alguns dos aspectos éticos e morais do homem e da sua condição na existência. Desde tempos remotos pré-científicos, antes mesmo da história escrita, elas são importantes para aqueles que buscam na fé algum conforto para suas vidas, ou que vêem na devoção ao divino, independente de como ele se expressa, a sua tábua de salvação. O misticismo também funcionava como fator organizador dos agrupamentos sociais primitivos, aparecendo por vezes associado às primeiras tentativas do homem de interpretar os fenômenos naturais.

Como é de amplo conhecimento, as doutrinas religiosas baseiam-se em dogmas, fundamentos doutrinários muitas vezes frutos de pretensas revelações ditadas pelos próprios deuses, santos ou espíritos iluminados. Visto que seriam as palavras divinas em si, apesar de transcritas e interpretadas por homens, e uma vez tidos como certos pela alta hierarquia da igreja, congregação, seita e similares, esses preceitos transformam-se em ditos sagrados e, infelizmente, não se prestam a indagações sobre seus fundamentos. Assim, passam a corresponder à verdade absoluta proferida pelo altíssimo. Nesse sentido, o desenvolvimento de uma postura cética torna-se pouco provável no âmbito das religiões, pois o questionamento dos dogmas pode levar à dúvida quanto à validade desse ou daquele preceito, conseqüentemente erodindo os pilares sustentadores do pensamento religioso.

A questão é ainda mais ampla e extrapola essa frágil dicotomia ciência-religião. Qual seria o objetivo de se estimular a reflexão individual (ou coletiva), o "pensar com a própria cabeça", se tudo parece já estar escrito, refletido e "pensado"? É muito mais cômodo transferir o ato de raciocinar para o padre, o pastor, o papa... ou o jornalista, o professor, o cientista... já ouvi muitos alunos dizerem "Professor, o que eu tenho que saber?" ou "Professor, o que o senhor quer que eu estude?" ou ainda "Professor, como eu devo pensar a respeito desse assunto?".

Parece que sempre buscamos um führer, um condutor para nos mostrar o que deve e o que não deve ser feito. Nas palavras do Surfista Prateado: "Eles desejam um líder, assim como uma criança espera o leite materno. É por isso que se tornam presas fáceis dos tiranos e déspotas".

4 comentários:

Anônimo disse...

Concordo!E é por isso que nem ciência nem religião da forma que têm sido praticadas estão trazendo a salvação!

João Carlos disse...

Excelente colocação! (Teria sido uma contribuição maravilhosa para o tema anterior do "Roda de Ciência", no qual se discutiu o papel do cientista nos assuntos que envolvem decisões éticas).

Certamente que meu posicionamento acerca da validade do ceticismo para o desenvolvimento das religiões é demasiado otimista (mas, fazer o que?... H. L. Mencken dá a melhor definição que eu já vi, de "fé": «A esperança infundada na ocorrência do improvável»). Você pode apostar que eu tenho muita "fé"!... :D

Em minhas diversas diatribes sobre o sistema de ensino, você vai encontrar meu insistente pedido para que a Lógica seja uma matéria obrigatória desde o ensino fundamental.

O raio é que a Fernanda comenta: o "cidadão comum", exposto às contradições que desacreditam os dogmas das religiões, tentou fazer da ciência um substituto para a religião... E "se ferrou" porque o propósito da ciência é obter conhecimentos para fazer mais perguntas (e, podemos dizer, perguntas "melhores"), enquanto as religiões se pretendem detentoras de todas as "respostas".

O Teorema da Incompletude de Gödel deveria ser lana caprina, no entanto você encontra até cientistas que não o conhecem...

Maya Felix disse...

Olá, Charles, venho retribuir sua visita. Sabe, a ciência se tornou o deus de muita gente, que nem percebe como ela pode ser falha.

Acho que esses textos podem interesssar a vc:

http://mayafelix.blogspot.com/2008/06/sagaz-cincia.html

http://mayafelix.blogspot.com/2008/05/qual-sua-religio.html

http://mayafelix.blogspot.com/2008/06/homenagem-ao-bilogo.html

http://mayafelix.blogspot.com/2008/05/conscincia.html

Um abraço,

Maya

:)

Geraldo Barreto da silva disse...

A pAZ de JESUS nosso DEUS e Salvador.

Amigo a ciência se multiplicou.
Mas DEUS está sobre controle de todo o universo.

Grandes são as obras do SENHOR.procuradas por todos os que nelas tomam prazer.
Glória e majestade há em sua obra e a sua justiça permanece para sempre.

Salmos cap 111 ver.2e3

DEUS AMA você.Insondável é a sabedoria de JESUS o criador.

A pAZ.