Acaba de ser publicado (junho/2021) um interessante estudo a respeito da influência da dieta na infecção, severidade e duração dos sintomas da COVID-19. Ainda que vários trabalhos anteriores tenham sugerido que padrões de alimentação podem ter algum papel na incidência e no curso da COVID-19 por conta da sua relação com o aumento (ou diminuição) da resposta imunológica, o trabalho de Hyunju Kim, do Departamento de Epidemiologia da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health, e seus colaboradores espalhados pelos Estados Unidos é o primeiro a estabelecer uma correlação direta entre padrões de dieta e severidade da síndrome respiratória aguda grave causada pelo coronavírus.
Profissionais de saúde de seis países (França, Alemanha, Itália, Espanha, Reino Unido e EUA), altamente expostos a pacientes com COVID-19, foram objeto da pesquisa, feita entre 17 de julho e 25 de setembro de 2020. De um total de 2884 participantes, houve 568 casos COVID-19; destes, 138 indivíduos apresentaram sintomas de moderados a graves, enquanto 430 indivíduos tiveram sintomas de muito leves a leves.
Os participantes relataram suas dietas durante todo o ano anterior à Organização Mundial de Saúde ter decretado o status de pandemia de COVID-19, em março de 2020. Dessa forma, foi possível definir os padrões de ingestão alimentar usual e de longo prazo dos amostrados. Entre as opções de dietas apresentadas aos participantes estavam alimentos integrais, dietas à base de plantas, dietas vegetarianas, regimes alimentares que incluíam peixes e frutos do mar (mas excluíam a carne de outros animais), dietas com baixo teor de gordura, dietas pobres em carboidratos e dietas ricas em proteína animal.
Entre os 568 casos de COVID-19 registrados na amostra, os indivíduos que seguiam dietas baseadas em plantas relataram consumir mais vegetais totais, proteínas vegetais (leguminosas e nozes) e menos aves, carnes vermelhas e processadas, além de menos bebidas adoçadas com açúcar e álcool, em comparação com aqueles que não seguiam dietas à base de plantas.
Os participantes com dietas ricas em vegetais tiveram 73% menos chances de apresentar sintomas de COVID-19 de moderados a graves em comparação com aqueles que não se alimentavam preferencialmente de vegetais e legumes. Aqueles que seguiram dietas baseadas em vegetais somadas a peixes e frutos do mar como fonte de proteína animal tiveram 59% menos chances de apresentar sintomas moderados a graves.
Os participantes da pesquisa de Kim e colaboradores que seguiam dietas vegetais ou vegetarianas tiveram maior ingestão de vegetais, legumes e nozes, e menor consumo de aves, carnes vermelhas e alimentos industrializados ultraprocessados. Dietas baseadas em vegetais são ricas em nutrientes, especialmente fitoquímicos, fibras, vitaminas A, C, D e E e minerais (ferro, potássio, magnésio). A suplementação de alguns desses nutrientes diminui o risco de infecções respiratórias, como resfriado comum e pneumonia, encurtando a duração dos seus sintomas. Uma vez que desempenham papéis importantes na produção de anticorpos, proliferação de linfócitos e redução do estresse oxidativo, dietas com concentrações adequadas em tais nutrientes podem ter por consequência o bom funcionamento do sistema imunológico.
Vírus como o SARS-CoV-2 provocam falhas no acionamento do sistema imunológico. A inflamação resultante pode levar à deficiência respiratória aguda e a outros sintomas perigosos. Na maioria dos pacientes de COVID-19, o sistema imune é capaz de "desarmar" e matar o coronavírus. No entanto, em cerca de 5% dos infectados o corpo não é capaz de se livrar do vírus, o que pode resultar em dano duradouro ao pulmão e outros tecidos, formação de coágulos e vazamento de fluidos dos vasos sanguíneos.
Estudos como o de Hyunju Kim e colaboradores apontam que uma dieta saudável, baseada majoritariamente em plantas e rica em nutrientes, funciona como proteção adicional (além das vacinas, absolutamente necessárias) contra sintomas severos da COVID-19.
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Referências
1. Calder, P.C. 2020. Nutrition, immunity and COVID-19. BMJ Nutr Prev Health 3:74–92.
2. Kim, H., Rebholz, C.M., Hegde, S., et al. 2021. Plant-based diets, pescatarian diets and COVID-19 severity: a population-based case-control study in six countries. BMJ Nutrition, Prevention & Health.
3. Iwasaki, A. & Wong, P. 2001. O caos que a COVID-19 cria na imunidade. Scientific American Brasil 216: 59–65.
4. Morais, A.H.A., Aquino, J. S., Silva-Maia, J.K., et al. 2021. Nutritional status, diet and viral respiratory infections: perspectives for severe acute respiratory syndrome coronavirus 2. Br J Nutr125:851–62.
5. Satija, A. & Hu, F.B. 2018. Plant-based diets and cardiovascular health. Trends Cardiovasc Med 28:437–41.
6. Zabetakis, I., Lordan, R., Norton, C., et al. 2020. COVID-19: the inflammation link and the role of nutrition in potential mitigation. Nutrients 12:1466.
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